
É graças aos sentidos que comunicamos com o
mundo exterior. Em relação ao olfacto, e apesar de ter sido considerado
um dos sentidos de que se poderia prescindir sem alterar a nossa
percepção da realidade, ele é o mais rápido a “pôr o cérebro a
funcionar”, transportando-nos para um mundo de emoções e sentimentos
distintos e mais profundos do que o que nos é sugerido pela visão de uma
imagem ou a percepção de um objecto através do tacto.
Assumindo o olfacto um papel tão importante
na interpretação do mundo que nos rodeia, tudo indica que o Homem terá
aprendido, desde as suas origens, a distinguir o bom do mau odor. Apesar
de só ter começado a realizar experiências com os aromas muito mais
tarde, o perfume existe desde que existe o sentido do olfacto,
confundindo-se a sua história com a própria história da Humanidade.
E é assim que vamos começar “A História do Perfume”.
Tanto a palavra portuguesa “perfume”, como a correspondente francesa parfum, a italiana profumo e a inglesa perfume derivam do latim “fumus”, palavra que nos transporta para um cenário fumegante, numa referência às nuvens de fumaça perfumada que subiam aos céus durante os ritos de homenagem aos deuses. É, pois, quase certo que o perfume nasceu em estreita ligação com a religião, sendo utilizado como purificante das almas e como oferenda aos deuses.
Tanto a palavra portuguesa “perfume”, como a correspondente francesa parfum, a italiana profumo e a inglesa perfume derivam do latim “fumus”, palavra que nos transporta para um cenário fumegante, numa referência às nuvens de fumaça perfumada que subiam aos céus durante os ritos de homenagem aos deuses. É, pois, quase certo que o perfume nasceu em estreita ligação com a religião, sendo utilizado como purificante das almas e como oferenda aos deuses.
As primeiras referências ao perfume remontam
às antigas civilizações do Próximo Oriente, especialmente ao Egipto. Os
arqueólogos encontraram vasos de perfume de alabastro que remontam ao
terceiro milénio antes de Cristo, e são numerosos os frescos com cenas
da vida quotidiana que mostram rituais do perfume.
O culto do perfume no antigo Egipto era tão
marcado que chegavam a ser montados autênticos laboratórios nos templos,
para a preparação das fragrâncias utilizadas para os mortos e para os
deuses. No laboratório do templo de Horus, em Edfo, por exemplo, foi
encontrada a receita de velas perfumadas, fabricadas a partir de sebo
embebido em drogas aromáticas, que eram queimadas como oferenda às
estátuas das divindades. Os egípcios acreditavam que os seus pedidos e
orações chegariam mais depressa à morada dos deuses se viajassem nas
densas nuvens de fumo aromático que se erguiam dos altares e ascendiam
aos céus.
Mas o papel do perfume na civilização egípcia não se ficou por aqui. Para além de terem adquirido uma função cada vez mais importante nos processos de mumificação dos corpos, os perfumes tiveram um papel na definição da hierarquia social. Os profundos conhecimentos de flores e especiarias, como o açafrão, canela, óleo de cedro, mirra e outras resinas, ajudavam a criar perfumes delicados para os aristocratas da corte egípcia, que os incluíram nos seus rituais quotidianos. Por exemplo, as mulheres usavam brincos ocos cheios de perfume, para além de perfumarem roupas e águas dos banhos e de untarem os seus corpos com uma infinidade de óleos e fragrâncias.
Mas o papel do perfume na civilização egípcia não se ficou por aqui. Para além de terem adquirido uma função cada vez mais importante nos processos de mumificação dos corpos, os perfumes tiveram um papel na definição da hierarquia social. Os profundos conhecimentos de flores e especiarias, como o açafrão, canela, óleo de cedro, mirra e outras resinas, ajudavam a criar perfumes delicados para os aristocratas da corte egípcia, que os incluíram nos seus rituais quotidianos. Por exemplo, as mulheres usavam brincos ocos cheios de perfume, para além de perfumarem roupas e águas dos banhos e de untarem os seus corpos com uma infinidade de óleos e fragrâncias.
Já Cleópatra era uma fervorosa utilizadora
de perfumes, assim como de outras receitas de cosmética naturais, sendo
considerada uma das primeiras mulheres a utilizar o perfume como “arte
de sedução”. “Perfumes embriagadores flutuavam...”, escreveu Plutarco
para descrever o momento em Marco António entrou no barco da rainha em
Tarso e imediatamente se apaixonou por ela.
Também os assírios e os babilónicos
apreciavam as essências proporcionadas pelas resinas de certas árvores
provenientes da Índia e outros países asiáticos, que importavam em
grandes quantidades. Dos Himalaias recebiam a alfazema, uma planta
herbácea de cujas flores se extraía a fragrância que Plínio, séculos
mais tarde, definiu como “o perfume por excelência”.
Na misteriosa Mesopotâmia os perfumes desempenhavam um importante papel na vida conjugal e o marido devia proporcioná-los à esposa, tanto como acto de amor, como para rituais de purificação. Toda a população usava óleos, cuja qualidade dependia da condição social de cada um, sendo que os mais abastados podiam utilizar finos óleos de murta e cedro.
Na misteriosa Mesopotâmia os perfumes desempenhavam um importante papel na vida conjugal e o marido devia proporcioná-los à esposa, tanto como acto de amor, como para rituais de purificação. Toda a população usava óleos, cuja qualidade dependia da condição social de cada um, sendo que os mais abastados podiam utilizar finos óleos de murta e cedro.
Já as informações de outras civilizações
quanto a hábitos quotidianos de utilização de perfumes não são muito
precisas. Por exemplo, da Pérsia existem referências contraditórias,
pois enquanto para alguns historiadores a utilização de perfumes
relacionava-se com a tentativa de mascarar os odores intensos de corpos a
quem se presta poucos cuidados de higiene, outros encontram relatos de
uma utilização intensa e refinada. No entanto, este império não marcou
esta história e houve que esperar que as civilizações grega e romana
florescessem para que a manufactura de perfumes crescesse como forma de
arte.
Os perfumes sempre desempenharam um papel
importante na mitologia Grega. No séc. IV a. C. Alexandre, o Grande,
trouxe os perfumes para a Grécia, que cedo se tornou uma fervorosa
adepta destas substâncias. Nos dias de luxúria grega, os perfumes tinham
um valor tão elevado que quase igualava o valor dos alimentos e foram
usados de formas até então nunca praticadas. Por exemplo, a sua famosa
bebida continha mel, vinho, mas também flores doces e perfumadas e até
mirra, o que dá uma ideia de quão viciados em perfumes os gregos eram,
levando o seu uso a extremos.
A arte da perfumaria floresceu nesta
civilização. Foram desenvolvidas fragrâncias específicas para cada parte
do corpo e outras para o tratamento de diversas doenças. Teofrasto,
nascido a 370 a. C. terá sido o primeiro grego a escrever um tratado
sobre perfumaria, a partir dos seus vastos conhecimentos em Botânica. É
através deste documento que se sabe que os óleos utilizados nesta época
eram produzidos a partir de flores e esta é a primeira referência
conhecida a óleos florais na história do perfume.
A perfumaria também se encontra, desde a
Antiguidade, ligada à ciência médica. Na Grécia Antiga, Hipócrates,
conhecido como o “pai da medicina”, utilizava pequenos concentrados de
perfume para combater certas enfermidades.
Contudo, terão sido os romanos, preocupados
com o asseio pessoal diário, que lançaram o consumo dos perfumes a todos
os escalões da sociedade. Foram pioneiros a desenvolver óleos para a
limpeza do corpo e para a preparação de rituais de fertilidade, assim
como a desenvolver diferentes consistências nas substâncias aromáticas,
como pastas, óleos, incensos e colónias. Utilizavam bálsamos
cicatrizantes e utilizavam perfumes nas roupas para espantar as
epidemias.
Quando
foram descobertas as ruínas de Pompeia o trabalho dos arqueólogos
trouxe à luz uma perfumaria, onde foram encontradas garrafinhas de
perfume com resquícios dos seus conteúdos mágicos. Depois de análises
diversas, os mistérios dos perfumes com mais de 2000 anos foram
revelados. Verifica-se que são todos à base de azeite, no qual as
plantas, como pétalas de rosas, lírio ou manjericão, eram maceradas.
Como não utilizavam fixadores, depois de meia hora de utilização o que
ficava mesmo era o cheiro a azeite!
Com a chegada do Cristianismo e as suas
mensagens de humildade e pudor, o perfume caiu em desuso. Terá sido a
civilização árabe a “investir” em experiências com perfumes, que
pretendiam extrair as propriedades das plantas, a sua essência química.
Desta forma, a planta seleccionada era destilada uma infinidade de
vezes, até que as suas qualidades passassem a um outro estado. Com a
chegada dos árabes à Península Ibérica, a perfumaria expande-se
novamente pelo resto da Europa. Os países mediterrânicos, com um clima
adequado ao cultivo de plantas aromáticas, principalmente o jasmim, o
alfazema e o limão, viram as suas costas ocupadas com plantações, cujas
flores e frutos eram aproveitados pelos árabes na produção de perfumes, a
sua principal ferramenta de comércio.
Os perfumes foram também introduzidos no
Japão, através da China, que já tinha desenvolvido grandes artesãos da
jardinagem para perfumaria. Neste país reconhece-se grandes poderes aos
perfumes e o sentido do olfacto, sempre desprezado em relação aos outros
sentidos, é colocado na posição de relevo que lhe pertence.
Voltando à Europa, e apesar de na Idade Média a utilização de perfumes estar condicionada pela pressão da Igreja, ela continuou nas classes mais favorecidas. Com a ausência de cuidados de higiene, as mulheres perfumavam-se com fortes e persistentes aromas, como âmbar. Nos castelos aromatizavam-se alguns compartimentos, nascendo, assim, o primeiro ambientador da história.
Voltando à Europa, e apesar de na Idade Média a utilização de perfumes estar condicionada pela pressão da Igreja, ela continuou nas classes mais favorecidas. Com a ausência de cuidados de higiene, as mulheres perfumavam-se com fortes e persistentes aromas, como âmbar. Nos castelos aromatizavam-se alguns compartimentos, nascendo, assim, o primeiro ambientador da história.
Mas o primeiro perfume como fórmula própria,
de que se tem conhecimento, surgiu em 1370, criado pela Rainha
Elisabeth, da Hungria. Era uma concentração de óleos e essências,
conhecido como l’eau de la reine de Hongrie.
Embora a tradição da perfumaria em França
venha já do séc. XIII, quando foram criadas as primeiras escolas que
formaram os aprendizes e oficiais desta profissão, foi após a Revolução
Francesa que se conheceram desenvolvimentos impressionantes. Tinha
chegado ao fim a história do perfume apenas como composições restritas a
águas tratadas com flores e começam a aparecer fórmulas que combinam
aromas de couro, almíscar e musgos. Nesta época o perfume começou a ser
associado à sedução e mesmo ao erotismo. Assim, a partir do séc. XIX, a
história deste produto começou a caminhar de mãos dadas com a moda.
França é reconhecida como o berço da perfumaria e Paris como o centro da
indústria do perfume.
Entretanto o desenvolvimento não pára,
especialmente ao nível técnico. Até aqui a maioria dos perfumes era
extraída de substâncias aromáticas contidas nas plantas. Com os avanços
científicos, uma pequena revolução nos laboratórios começou a mudar a
história dos aromas: compostos sintéticos reconstituíram aromas naturais
e criaram-se mesmo novas fragrâncias. Pôs-se fim a um dos maiores
problemas da indústria perfumista – a estabilidade. Este é um grande
passo, que os ambientalistas agradecem – hoje não é preciso colher ao
amanhecer quilos de flores, para extrair uma fragrância exótica.
Por volta de 1920, com o advento da química
orgânica, começaram a surgir as fragrâncias como hoje as conhecemos. A
partir daqui, a cada revolução na indústria da moda, que ditava novas
tendências, a indústria química dava uma resposta e alguns perfumes
começaram a marcar épocas.
Para além da evolução técnica, foi
igualmente ocorrendo uma evolução nas preferências dos consumidores, e
existem épocas marcadas por tendências florais, outras mais cítricas, ou
mais exóticas, tendências essas que se vão alternando até chegarmos aos
nossos dias.
Relativamente aos processos de fabricação
dos perfumes, eles foram evoluindo consideravelmente ao longo da
história, e apesar de actualmente a maior parte se centrar na produção
sintética de aromas, ainda hoje são utilizadas algumas técnicas antigas
que sempre deram bons resultados. É o caso da maceração, em que flores
são colocadas dentro de misturas de gorduras animais cozidas e
purificadas, para que estas fiquem impregnadas com os seus odores. Para
os chamados óleos essenciais, utiliza-se a destilação para arrastar no
vapor da água as substâncias odoríficas de materiais naturais (flores,
folhas, raízes e madeiras). Para extrair óleos essenciais de citrinos é
utilizada a técnica da compressão da casca, que permite a libertação das
moléculas voláteis odoríficas. A técnica da exsudação é utilizada com
árvores que possuem resinas, posteriormente tratadas com álcoois.
A partir destas matérias-primas secundárias
são fabricados diversos produtos, que vão desde os perfumes enfrascados
que utilizamos diariamente, até aos ambientadores para as nossas casas,
passando por uma infinidade de produtos, como bálsamos, desodorizantes,
óleos e leites corporais, pós de talco, géis de banho, maquilhagem,
etc., assim como produtos de “capricho” – papel, velas, tintas e uma
infinidade inimaginável de produtos, todos eles perfumados.
É mesmo difícil conceber o nosso dia-a-dia sem o perfume.
Bibliografia
Aftel, M. (2001). Essence and Alchemy A Book of Perfume. North Point Press.
Groom, N. (1997). The perfume handbook. Chapman & Hall, New York.
Lefkowith, C.M. (1998). The Art of Perfume: Discovering and Collecting Perfume Bottles. Thames and Hudson, New York.
Lynne, M. (1997). Galaxy of scents: the ancient art of perfume making. Kessinger Publishing Company.
Oakes, J. (1996). The Book of Perfumes. Harper Collins Publishers, New York.
Aftel, M. (2001). Essence and Alchemy A Book of Perfume. North Point Press.
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Lynne, M. (1997). Galaxy of scents: the ancient art of perfume making. Kessinger Publishing Company.
Oakes, J. (1996). The Book of Perfumes. Harper Collins Publishers, New York.
Fonte: http://naturlink.sapo.pt/
Uau, é a história mesmo do perfume, e que história hem. Não dá para dizer mas o perfume é mais antigo que o homem, mas suas histórias se cruzaram e estamos até aqui juntos.
ResponderEliminarMuito bom seu texto amigo. Valeu.